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O homem (que não sabia) das metáforas.

"Cinco reais" - Disse o vendedor de livros apontando para eles. "Os de capa dura custam dez, os outros só cinco". Parei para olhar, eu e algumas amigas. Eram antigos e ocupavam toda a bancada que servia para os estudantes. Havia uma mala (enorme) encostada nos bancos com mais alguns livros dentro. Ele era um senhor, calça social marrom amarrada acima da cintura, uma blusa 3/4 branca combinando com o cabelo. "Esse livro custa em média trinta reais, e estou vendendo por cinco" - Insistiu. Eu apenas ouvia, não tinha um tostão, e ele persistia numa tentativa capitalista de sugar o que (infelizmente) eu não tinha. Decidi ir, agradeci, ele respondeu com um "obrigado". Quando estávamos saindo ele perguntou: "Qual o curso de vocês?". "Jornalismo" - Respondemos e voltamos a ouvi-lo. "Olha esse... está ótimo". Pegou um livro e abriu. "Vocês não encontram por esse preço em lugar nenhum". Eu ri, achei engraçado minhas vontades se confundindo. Não sabia se tentava ir ou se ouvia. "Quando encontrar com o pessoal de letras, digam a eles". "Ta bom". "Um ótimo preço, não é?". "Sim!". "Sabe o que acontece? Estou com dores terríveis nas costas. O médico pediu para eu vender tudo isso. A mala está muito pesada" - Desabafou. Fiquei pensando no que, de fato, estava pesando. Carregar por muito tempo maltrata. "Estou com dores terríveis". "Que coincidência, vivo com elas" - Pensei em responder. Preferi aderir sua ideologia: Livre-se. Compre um livro por cinco reais e alivie o meu peso, dizia nas entrelinhas. Infelizmente sua mala ainda estava cheia, mas decidir esvazia-la já é um bom começo. Por fim não comprei nada, mas assim que tive a oportunidade descarreguei os livros da mochila. Que metáfora gostosa! Estou mais leve...

Nossas profundezas.

Mergulhar é um processo. Um jogo de conquista. Observa-se primeiro o mar e suas agitações. Seus mistérios se ocultam com tamanha beleza. É uma troca: A confiança para uma entrega. Toca-o primeiro com os pés. Senti-lo é necessário. Aos poucos vai se doando as águas infinitas que tendem a profundezas. O primeiro mergulho é seguro. Os pés ainda tocam no chão, e a sensação é de ânimo. É tão gostoso, que continuar aqueles passos se torna mecânico. Vai-se andando cada vez mais, sem a preocupação de parar. Após sentir-se seguro, mergulha de cabeça! E numa resposta ao que se aprecia: Nada. Até que é necessário parar e observar. Ver onde está. Encontra-se, então, no fundo! Uma surpresa! Foi sem perceber. Deixou fluir. Estar no fundo do mar requer um apreço por aventura. Na verdade, vai além: Encontrar-se em um determinado lugar sem conhecê-lo requer coragem! Olhar pela superfície é encontrar facilidade, mas é lá em baixo, mais baixo e um pouco mais, que estão os mistérios! Um lugar deficiente de oxigênio, onde não há luz. E para descobrir, é necessário estar submerso. Não sentir o chão. É respirar, preenchendo todo o pulmão, e mergulhar. É se deliciar pelas profundezas, para só assim compreende-la. É lutar contra o fluido. É se submergir nas angustia, numa disputa sobre o autoconhecimento É conquistar! É descobrir! (Des)cobrir. Tirar a coberta.

Desmembrando.

Acorda(ria).
Pensa(ria).
Sonha(ria).
Fala(ria).
Lembra(ria).
Cai(ria).
Cresce(ria).
Perde(ria).
(...)
Ria.
Você escolhe: Tratar o verbo como futuro do pretérito do indicativo (Viveria) ou desmembra-lo (Vive. Ria).


Luyne Matos

A escrita

"Libere esse sentimento no papel,
dando movimento as mãos,
escutando as palavras do pensamento.
Dê liberdade aos seus sussurros.

A tinta da caneta quer tomar forma,
criando expectativas em ser lida pelo mundo,
ser ouvida por outras vozes.
Quer expressar-se."

Luyne Matos

Sobre o medo...

Essa semana estava na praia, sentada na minha esteira de um metro, observando cada detalhe que o mar podia me proporcionar. Estava acompanhada, e num determinado momento da conversa reparei que havia um caranguejo próximo. Nunca tive problemas com crustáceos, mas fiquei intrigada imaginando como seria levar um beliscão. Não tirei os olhos dele! Precisava estar ciente de todos os acontecimentos para não ser pega de surpresa. Até que fui chamada atenção, precisava me concentrar na conversa. Tentei esquecê-lo. Mas enquanto ouvia, o procurava. Queria ter a certeza que ele estava numa distância suficientemente confortável. Até que, por um descuido de atenção e em questão de segundos, ele sumiu! Não aguentei e deixei claro o meu medo. “Cadê o caranguejo?”- Perguntei. “Não sei”- Foi a resposta. Fiquei nervosa. “Vamos para outro lugar”- Pedi. “Se ele não está mais aqui, porque o medo?”- Fui questionada. Acontece que eu fantasiei uma situação, criei uma história onde um pequeno e inofensivo caranguejo poderia arrancar um dedo do meu pé. Tive receio, claro. Mas mesmo com medo, estava no controle, já que sabia muito bem onde ele estava. Não precisava temer o conhecido. A distância era suficientemente confortável. A partir do momento em que não o encontro, tenho o desconhecido. Não saber onde o objeto que te proporciona medo está, é a chave para a fantasia. A primeira coisa que pensei foi: Ele está aqui! Mesmo não estando. Com isso posso afirmar: De todos os males, para mim, o desconhecido é o pior. 

A tempestade.

A chuva, por mais bela que seja, trouxe consigo uma tempestade. Exatamente essa palavra: Tempestade. Em espanhol podemos dizer: La tormenta. Para nós: Tormento. Sinônimos de desordem, agitação, preocupação. Não sei diferenciar, mas diria que esse trouxe de tudo. Seja um furacão, tufão... Um TEMPORAL! Tempo-oral. É o tempo falando! Por sorte, o tempo muda ao decorrer do tempo. Eu já sabia que todo esse vendaval passaria, a questão é a consequência dele. Tudo está, literalmente, destruído, dando assim vida aos sinônimos... Uma desordem! Ainda enxergo de longe os nimbos (grande nuvem cinzenta que precipita facilmente em chuva), e posso ouvir os ruídos dos trovões que acabara de passar. Engraçado, chegou, fez seus estragos e se foi. Simples, não? O que me restou? Visualmente falando: Carcaças. Sentimentalmente falando: Recomeço. A gente sempre aprende a veranizar.

Luyne Matos

Ah neguinho....

Ah neguinho, se tu soubesses quanto sinto sua falta...

Quando fecho os olhos lembro-me dos seus detalhes. Não é fácil só te ter pelos pensamentos. A imagem da sua boca sorrindo e a sua mão entre meus cabelos permeiam sobre meus sonhos. Quero-te por perto, quero seu cheiro, seu amor me preenchendo. Vivo assim: Me pré-enchendo. Encho-me de esperança antes. Antes do seu sim, da sua decisão em me ter. Reza a lenda que imaginar é o princípio para a realização. Então vem! Vem que te sonho há um tempo, e não quero mais esperar para realizar tudo o que planejo ao teu lado. Vem que sou tua! Sou tua a cada detalhe, a cada palavra que expresso, a tudo o que partir de mim. Pertenço-te, caso queira. Vem, vem que eu preciso do seu olhar me procurando, dos arrepios que sinto como consequência do seu carinho, e do conforto que tenho ao seu lado. Conclua-me! Deixa-me despertar seus sentimentos, seja-me. Seja me(u)! Vem neguinho, como um herói a destruir todas as minhas angustias, como o príncipe a me salvar da solidão. E não demora, se apressa para os dias bons. Aconchega-me de abraços. Abraços. Há braços. Teus braços. Teu. Você. Vem! 

Da série: Encontrei no ônibus.

Sua aparência não nega a idade avançada. Os cabelos brancos, as mãos enrugadas e o corpo curvado. Mesmo domado pela velhice é clara a beleza da sua juventude. Subiu no ônibus com dificuldade e sentou na primeira cadeira que encontrou vazia. O modo que se veste chama bastante atenção, nada antigo. São peças modernas: Bermuda até os joelhos e uma blusa regata. O cabelo grisalho, liso, e um ótimo físico para a idade (Daria 68 anos). Seus olhos pequenos observam cada detalhe que passa, por vezes tenho a sensação que ele viaja nos pensamentos. O telefone toca, e ao atender percebo uma aliança em seu dedo, o que me faz viajar pelo seu mundo. Após desligar ele é tomado pelas lembranças e volta ao momento mais importante da sua vida: O baile. De olhos fechados, lembra-se de cada detalhe.
Era a primeira vez que usava aquele terno, seus amigos estavam conversando sobre os vestígios da segunda guerra, coisa que, naquele momento, ele não queria pensar. Estava ansioso, procurava a garota que havia trocado olhares na última festa. O local estava cheio, os pares dançavam ao som da valsa. Seus amigos brincavam, diziam para ele esquecê-la por alguns minutos. Decidiram ir comprar algo para beber, ele acompanhou, precisava se distrair. Enquanto caminhavam seus olhos a procurava. Não quis beber nada e ficou em pé, de frente para o centro do salão onde todos estavam dançando. Até que algo te chamou atenção: Ele percebeu que alguém te olhava. Era ela! O sorriso foi involuntário. Ela estava linda, o cabelo curto e um vestido até o joelho. A música que estava para começar era a sua favorita, ele começou a acompanhar a letra olhando para seus olhos: “Eu sonhei que tu estavas tão linda, numa festa de raro esplendor. Teu vestido de baile lembro ainda, era branco, todo branco meu amor”. Enquanto cantava ia ao seu encontro, e a convidou para dançar. “A orquestra tocou umas valsas dolentes, tomei-te aos braços fomos bailando ambos silentes, e os pares que rodeavam entre nós diziam coisas, trocavam juras a meia voz”.
Abriu seus olhos, olhou para aliança e sorriu. Tirou o celular do bolso, e decidiu ligar. Ela atendeu: “Oi”. Ele começou a cantar: “Teu vestido de baile lembro ainda, era branco, todo branco meu amor (...)”. 

Luyne Matos

O passarinho...



A orla de Aracaju me encanta, e os motivos são diversos. Vez ou outra sinto a necessidade em repor as energias ouvindo o som do mar. Há sempre uma cena, uma atitude que me encanta em meio aos passeios. Gosto de observar, quem me conhece sabe. Mês passado estava passeando de bicicleta, eu adoro, quando encontrei um pássaro no meio do caminho. Esse era especial, a ponto de me fazer parar. A cena era simples: Um pássaro que insistia em ir de encontro ao vento. Ele batia as asas, mas não saía do lugar. Por vezes ficava mais alto, por vezes ficava mais baixo, mas quanto ao lugar: Era sempre o mesmo. A força era clara, mas o vento não ajudava. O engraçado é que ele não desistia. Eu continuei parada, observando. Queria ver o momento exato em que ele conseguisse sair. Se passaram cinco minutos, e ele continuava batendo as asas. Fiquei pensando na possibilidade dele estar cansado, e que em poucos minutos desistiria. Fui enganada! Dez minutos depois ele continuava no mesmo lugar, e eu também. E ali estava seu problema, soprando com força, mas a desistência parecia utopia. Comecei a me sentir mal, quem dera eu, um ser humano que é considerado o animal mais inteligente, ter a mesma força de vontade. Se passaram quinze minutos, e dessa vez eu não desisti. Observava com o intuito de absorver para mim toda aquela disposição em enfrentar. Enfrentar. Enfrente! Em frente. Era assim que ele devia pensar. Até que chegou o momento. Foram dezoito minutos. O final não foi o que eu esperava, mas foi surpreendente! O pássaro que insistia em en(m)frent(e)ar deu a volta e se aproveitou do problema, se aproveitou do sopro, e pegou carona. Voou sem fazer muita força. O que antes era um problema, ele adjetivou na sua vida. O vento que antes ia de encontro, agora fazia parte do seu voo, era sua ajuda. Aprendi com um passarinho que é melhor sentir e deixar fluir do que lutar e viver preso a um problema. Preciso aproveitar meu voo!


Luyne Matos

5 tipos básicos de surdos

As pessoas não querem escutar, só querem falar. Depois de muita observação, classifiquei cinco tipos básicos de surdos. Há aqueles que só falam e pronto. Emendam um assunto no outro. Fico prestando atenção para detectar quando respiram e não consigo. Acho que inventaram um jeito de falar sem respirar. E ganhariam mais dinheiro se entrassem em algum concurso de tempo sem oxigênio embaixo d’água. Aí, pelo menos, ficariam quietas.
Existem aqueles que falam e falam e, de repente, percebem que deveriam perguntar alguma coisa a você, por educação. Perguntam. Mas quando você está abrindo a boca para responder, já enveredaram para mais algum aspecto sobre o único tema fascinante que conhecem: eles mesmos.
Há aqueles que fingem ouvir o que você está dizendo. Você consegue responder. Mas, quando coloca o primeiro ponto final, percebe que não escutaram uma palavra. De imediato, eles retomam do ponto em que haviam parado. E não há nenhuma conexão entre o que você acabou de dizer e o que eles começaram a falar.
Existem aqueles que ouvem o que você diz, mas apenas para mostrar em seguida que já haviam pensado nisso ou que sabem mais do que você, o que é só mais um jeito de não escutar.
Há ainda os que só ouvem o que você está dizendo para rapidamente reagir. Enquanto você fala, eles estão vasculhando o cérebro em busca de argumentos para demolir os seus e vencer a discussão. Gostam de ganhar. Para eles, qualquer conversa é um jogo em que devem sempre sair vitoriosos. E o outro, de preferência, massacrado. Só conhecem uma verdade, a sua. E não aprendem nada, por acreditarem que ninguém está à altura de lhes ensinar algo.
É claro que há um mix das várias espécies de surdos. E devem existir outras modalidades que você deve ter detectado, e eu não. O fato é que vivemos num mundo de surdos sem deficiência auditiva. E uma boa parte deles se queixa de solidão.
É um mundo de faladores compulsivos o nosso. Compulsivos e auto-referentes. Não conheço estatísticas sobre isso, mas eu chutaria, por baixo, que mais da metade das pessoas só falam sobre si mesmas. Seu mundo torna-se, portanto, muito restrito. E muito chato. Por mais fascinantes que possamos ser, não é o suficiente para preencher o assunto de uma vida inteira.

Eliane Brum - Jornalista

Poor boy


Um sábado. Acordou após o almoço. Sua semana de insônia e entrega aos pensamentos durante a madrugada compensada numa manhã de sono. Estava completamente desgastado e prometeu que dormiria cedo –mais uma vez. Decidiu se levantar e se doar a rotina matinal. Deu seu olhar de bom dia com aquele sorriso maravilhoso, ele não sabe, mas era ótimo estar naquele momento ao seu lado. O “Poor Boy” (como ele se autodenomina) quis preparar o café, e enquanto a água fervia repetia que “não sabia fazer aquilo”. Ele não sabe, mas eu acabei experimentado e adorei. Entre os risos e um café pronto havia uma caneca impossível de não ser notada. Com uma estampa de Jornal do dia, e um encanto para qualquer estudante de jornalismo. Ele me fez inveja, e até ousou dizer que me “daria” com aquele sorriso de brincalhão. Fomos para a mesa e comemos bolacha acompanhada do café com leite. Insisti em elogiar a caneca. Ele a segurou, e começou a ler tudo o que estava escrito nela. Era um cardápio de café da manhã de alguns países. Não tenho certeza, mas acho que decidimos comer na Alemanha. Entre risadas e escolha de países, ele continuou lendo. Havia tópicos como curiosidades, dicas, sorte do dia e entre outros. Por último o horóscopo. Ele pediu atenção. “Atenção para o horóscopo do dia”. “Boas propostas aparecerão para você. Esteja atento para não perder as oportunidades”. “O horóscopo de todos os dias”. Achei engraçado a sua maneira cômica de ler para mim e o seu comentário logo depois. “Leio todos os dias, e espero todos os dias as boas propostas, mas elas não aparecem”, disse o Menino Pobre. “Será?”, questionei. Ele deu aquele sorriso por qual sou apaixonada. “Spend all your time waiting for that second chance”, canta Sarah. Música que minutos depois ele me fez escutar. Passamos uma tarde de confidência, e eu então me encantei! Por vezes o sorriso gostoso era o meu. Algo mágico aconteceu. Ele não sabe, mas muita coisa do que escutei foram boas propostas de vida. “Eu estou no lucro. Vim para estudar e ganhei amigos” é o paradoxo de “espero todos os dias as boas propostas, mas elas não aparecem”. E muitas, muitas outras frases foram de encontro a sua indignação. Ele não sabe, mas a rotina mata. Lidar todos os dias com a mesma frase é não procurar outras interpretações. Mas o melhor e mais lindo de tudo, é que ele consegue enxergar, da sua maneira, as coisas boas da sua vida. Ele aprendeu vivendo, mesmo deixando uma caneca tirar proveito de si. Eu também aprendi. Escutar o horóscopo diário foi a novidade do MEU dia. E ali estava a oportunidade da qual eu não poderia perder: Lendo para mim. E pelo menos isso, eu espero que ele saiba. 

Eu e a Terra, meras estrelas.


Descobri em mim uma ânsia: Observar o planeta Terra. Há alguns anos desejei/sonhei cursar astronomia. Os planos foram por água abaixo, mas a paixão continua intacta. Para mim a palavra "incrível" foi criada e designada para um único propósito: Descrever o(s) sentimento(s) que o Universo nos transmite. Ao assistir documentários fico impressionada com a beleza do nosso planeta, e o quanto deve ser delicioso observa-lo de longe. Os astronautas com certeza devem ser os verdadeiros filósofos. Enxergar o que temos de maior numa distância que o torne tão pequeno é questionador. Você descobre que "muito" se torna "mínimo". Já assistiram a Terra quando as luzes das cidades se acedem a noite? E uma tempestade observada de cima? "São como fogos de artifícios" disse um astronauta. É lá de cima também que eles percebem o quanto o planeta é frágil. Frágil, uma palavra que nunca se encaixaria nesse texto caso não tivéssemos outro ponto de vista além de estar/ morar na Terra. Observar de longe é perceber que estamos em uma "unicidade" -que não inclui a religiosidade no momento. Todos somos uma única coisa. Lá de cima somos a Terra, e só. E o mais impactante, para mim, é que se a viagem for mais longa nos tornamos uma estrela. Uma única estrela. Uma pequena estrela. 
Pensando bem... De que vale os sentimentos ruins? Tratando de astronomia, são meras -e BEM BEM BEM pequenininhas- poeiras cósmicas. Vivas as estrelas!

Luyne Matos

Uma singela carta

Querida amiga,
Venho por meio desta materializar meus sentimentos. Preciso contar-lhe algo. É que... A Lua me sorriu! Um sorriso pra lá de amarelo. Ela estava no cantinho do céu, me olhando, como quem estivesse paquerando. Me acompanhou durante todo o percurso, demonstrando tamanha felicidade e compartilhando seu brilho. Devo assumir que estou com um pouco de medo. Você sabe que meu coração é bobo, e o quanto me derreto fácil. Já pensou eu me apaixono? Não vai ser tão simples ter que dividi-la com todos esses humanos. Por vezes agradeço por serem tão desatenciosos e ingratos que não param um segundinho do seu tempo para observa-la. Me sinto dona de todo esse carinho, brilho e atenção. Gosto de dividi-la com o Universo. Metade para cada. Só assim posso ter o sorriso amarelado mais lindo -e único. Fui até presenteada, acredita? Perdi as contas com tantas estrelas brilhando. Eu amei, mas tive a leve impressão que não fui a única a ser presenteada. Será que ela faz isso para todos? Ainda assim me sinto especial, só eu reparei. Por fim ela se despediu... Acho que com raiva, já que ficou toda vermelha antes de sumir. Disse para ter calma, e que amanhã nos encontrávamos. Ah querida amiga.... Acho que não durmo hoje.

Luyne Matos

Da série: Encontrei na universidade.

O professor está falando sobre a ciência. As palavras parecem ser ignoradas. A calça jeans, blusa de manga, cabelo liso, mãos nervosas e uma caneta fazendo círculos em seu caderno. Seus olhos pairam sobre a sala. Respira fundo. Não demonstra qualquer interesse. Talvez esteja tentando liberar sua angustia: A folha está uma bagunça de círculos. A classe está cheia, são sessenta alunos. Alguns têm a leve impressão que conhece o outro. Ela acabara de me contar seus problemas: Está grávida aos vinte anos. Ninguém sabe até agora, só eu. "Minha mãe vai me matar". Não há como não se pré-ocupar. Os círculos continuam a preencher as linhas, está cheia -a folha e ela. Cheia de pensamentos, de aborrecimentos, de futuro. Como se já não bastasse seu pretérito imperfeito. "Vou abortar!". Gelei. Seria fácil ter o problema morto. Logo depois ela desistiu. Continua rabiscando -gritando por dentro. Os minutos se transformaram em horas, a aula não acaba. A folha está cheia de círculos, e ela resolve começar tudo de novo. Vira a página. Mais uma atitude que esclarece seu eu: Começar tudo de novo. O novo. Alguém fala com ela. Ao responder, sorri. Sorriso. Só-riso? Não. A conversa continua. Quem emite a fala não sabe o que há por dentro da receptora. É... Alguns têm a leve impressão que conhece o outro.

Você é...

Você é a minha encrenca, o meu “não posso” e também meus desejos. Você é a minha ansiedade, o mal e até o meu problema. É o não ter encrencando com o querer, o meu id se realizando, o meu pecado, o me tornar livre. Você é a sua mão pesada em torno da minha nuca, seu braço em torno do meu corpo, é meu aperto de cabelo, é o seu jeito de sorrir torto. É a ânsia do beijo, o piscar dos olhos se declarando e a boca contendo ao redor aquela barba mal feita que eu adoro. Você é meu sorriso quando sou pega de surpresa pela vida e te encontro, ou quando insisto em te ver e vou a tua procura só para te olhar, para observar de longe, sem poder te tocar como sonho todas as noites. Você é a minha realização pessoal mais difícil. Você é o canalha que me desconserta e o sacana que me tira do sério. O aproveitador de sentimentos puros, o moleque que não estava nos planos. Você é meu em meus pensamentos, e o sou tua quando penso em ti. É o meu querer involuntário, é o futuro tão presente, as alucinações, as insistências com suas palavras. Você é o que me cerca, as lembranças dos encontros escondidos e a vontade de viver tudo que idealizo. É a facilidade em me ter, as ilusões, as promessas não cumpridas, as noites mal dormidas, as minhas insônias. Você é a culpa que sinto por te querer, é a luta que tenho por dentro. São as palavras no ouvido, mesmo sabendo que não podemos, são os dias que passo distante, são os raros momentos juntos, são os problemas que nos separaram. Você é a realização do meu futuro tão sonhado... 

Da série: Encontrei no ônibus.

O dedo na boca e a outra mão segurando fortemente o banco da frente, como quem precisa agarrar-se a algo, ou alguém. Está voltando do trabalho, o cabelo foi cortado tem pouco tempo, sua estatura é mediana. Seu psicológico transparece no seu rosto cansado. As roupas foram colocadas após passar horas mexendo em um cimento. As suas mãos, que agora estão limpas, não param. As unhas estão sendo roídas pela ansiedade que está passando. Os olhos estão vermelhos, foi uma noite mal dormida por conta dos  pensamentos. A mochila está pesada, como quem estivesse representando a sua própria vida que ele carrega com tamanha dificuldade. A põe no colo entre suas mãos nervosas. É uma espécie de abraço, dizendo: "Não vou te largar vida". A força parece estar desgastada, não sei distinguir se pelo trabalho ou pelos problemas. O pensamento viaja, ele com certeza está longe. Suas pernas estão em movimento, não param nenhum segundo. Respira forte, fecha os olhos. Quantas coisas estão passando naquela cabeça? Quando abre os olhos ele decide abrir também todas as janelas, como quem precisasse de ar, de espaço, de sentir a liberdade. Com certeza queria estar livre daquilo tudo. Aquilo, que eu não sei o que é, mas que seu corpo demonstra claramente. Há uma aflição, ou problema, até uma angustia, vai saber... Sua cabeça diz não. O que ele nega? Algo que fez e não aceita? Talvez só não queira chegar em casa. Suas pernas pararam, sua boca deu trégua as unhas. O que ele pensou para conseguir se acalmar? Ele fecha os olhos, coloca o rosto na maior janela, respira fundo e se prepara para levantar-se. Acho que não pensou em nada, o corpo parou pelo simples fato de ter que ir. Dá o sinal, abaixa a cabeça, e mesmo não querendo ir, ele vai... Sobre sua força estar desgastada: É mentira. Ele foi forte, ele foi! 

Engana-se quem acreditou nessa falta de energia.

Quem estava com dificuldade para dormir ontem a noite, se encontrou no escuro. Sou fã de carteirinha da natureza, não nego. Assim que as luzes dos postes e da minha casa se desligaram, coloquei minha cadeira no quintal. É a minha parte favorita da casa, posso me deliciar no céu, já que tudo é escuro e aberto. Só há uma parte coberta, que brinco de "camarote", e foi ali que me deliciei. As cortinas foram abertas, AS LUZES APAGADAS: Que venha o espetáculo! "É tudo sincronizado!" -pensava. Os raios são tão exibidos, mas tão talentos. Eles conseguem dançar nessa imensidão do céu, fazendo um zigue-zague. Quando os relâmpagos aparecem, clareiam tudo! "Pose para foto". "Mais alguns segundos... Espera!". CABUM. Os trovões são lindos, pelo menos é o que eu imagino. Ele é o assessor! Fala pelos artistas do espetáculo. Ou seria a música? É, a música atrasada. Não faz mal, é de suma importância esse atraso para a atenção ser completa para cada protagonista. Quando eu era criança, tinha medo, até aprender que os raios são descargas elétricas, ou seja: Energia! E ainda tem gente que diz que "faltou energia". Não faltou não, vocês só esqueceram de olhar onde ela estava. E mais uma coisa para quem só reclamou: Na próxima vez façam silêncio. A natureza faz espetáculos mais bonitos que os homens... E de graça!

Luyne Matos, após uma chuva e um apagão em seu bairro. 

E eu? Mereço ser estuprada?


Um assunto que, sinceramente, já passou dos limites. Já encheu o “saco”, e que não vai fazer ninguém mudar de opinião. A pesquisa foi lançada ao ar, e acreditem: De todos os entrevistados, 65% eram mulheres.  Ou seja: As próprias mulheres acreditam nessa hipótese. Claro que isso envolve uma cultura, e toda influência masculina que foi imposta há anos. Vivemos no mundo em que a moda se transformou em peças minúsculas. Aliás, o Brasil é conhecido internacionalmente pela escassez das roupas. Um costume que foi crescendo (ou diminuindo, se é que me entende) ao decorrer dos anos. Antigamente existia toda magia em ter um corpo feminino. Era necessário passar por fases: O namoro, o noivado e por fim o casamento, para só assim ter uma abertura em se deliciar nos corpos. Hoje em dia as mulheres estão ocupadas em academias para manter um corpo que os homens adoram, e usam roupas que mostram a consequência da atividade. Um short pelas pernas largas, e metade de uma blusa para cinturas finas. Elas decidiram chamar atenção. Posso estar errada, mas para mim, a partir do momento que uso um top na rua, estou dando a liberdade para alguns olhares. Afinal, é isso que acontece, e é isso que todos nós temos consciência. Se eu sei que isso acontece, fica a critério meu o que devo usar e a consequência. Ou seja, nesse caso, se o homem olha, é porque ele teve a liberdade de olhar, já que estava a amostra. Porém estou falando do olhar, estou falando do pensamento. A palavra “estupro” vem com um grande significado: Ato de forçar ou de obrigar uma mulher, através de violência ou de ameaças, a praticar o ato sexual contra sua própria vontade. Podemos destacar: FORÇAR, OBRIGAR, VIOLÊNCIA, AMEAÇAS, SEXO, VONTADE. Olha quantas palavras pesadas foram necessárias para um único significado. Um estuprador é um doente (na minha leiga opinião), que FORÇOU, OBRIGOU, FEZ AMEAÇAS, VIOLENTOU uma vítima. Esta que não tem escolha sobre a atitude, e que está sendo forçada a algo, da qual ela NÃO TEM CULPA. Ela não tem culpa que um doente estar abusado dela, ela não tem culpa! Se existe um estuprador procurando sua presa, ele vai atacar a qualquer pessoa desde que tenha oportunidade. Ou vocês acham que ele vai olhar para uma mulher passando a sua frente, a sós, no escuro, DE CALÇA e pensar: “Não, essa não, ela está de calça”. Quem pensa que as mulheres têm culpa, está trocando uma vontade sexual, por uma doença. Sim, a mulher tem culpa que um homem olhe para o corpo dela QUE ESTÁ exposto e sinta vontade do ato sexual. OUTRA COISA É DOMINAR O DESEJO DE UM DOENTE, QUE NECESSITA ABUSAR DE ALGUÉM. Gente, abusar é diferente de desejar! Para um bem maior, só usarei calças. E caso um dia (e com todas as forças do mundo, espero que não) aconteça comigo, eu vou olhar para ele e dizer: “MAS EU ESTOU DE CALÇA! EU MEREÇO SER ESTUPRADA?”
Perdoem-me pelas palavras fortes.

Luyne Matos

Hoje é só mais um dia.



Estava pensando no quanto a monotonia é mais presente do que eu imaginava. Pensei na possibilidade de VIVER ser uma rotina, afinal, vivemos todos os dias. Talvez, eu seja uma rotina! Tenho o mesmo corte e cor de cabelo há anos. Os meus olhos mudou de azuis para verdes quando eu tinha quatro anos, e até hoje continuam verdes. Sou branca desde que nasci, e peso 47 kg desde os meus 14 - não se assustem com o meu peso -. De todas estas, a que eu mais achei confortável foi o fato de saber que meu coração bate constantemente. Que alívio! Mas foi justamente nesse momento que repensei. Os batimentos do meu coração, que nesse momento está há 98 batimentos por minuto, se renovam. Que descoberta! Liguei o computador, e procurei saber como tudo funciona. Descobri que num corpo em repouso, são bombeados 5 litros de sangue por todo o organismo em apenas um minuto. Cinco litros! Sangue esse que pode ser gerado a cada mês. Ou seja, os batimentos nunca serão os mesmos. Sempre terá algo novo, mesmo que não se perceba ou enxergue. Mas não parei por aí. Lembrei que o cabelo cresce a cada mês, e que os fios caem, para só então nascer novos fios. Sem falar no sistema respiratório que em cada respiração, é inalado meio litro de ar. Calculando-se um ritmo médio de 12 inspirações por minuto (quando se está tranquilo), entram para os pulmões 17 000 litros de ar por dia. A cada minuto tenho várias doses novas de oxigênio. Os cílios duram três a cinco meses, e a pele se inova a cada 30 dias. Por uma surpresa maior, descobri uma célula que se renova A CADA DIA! Não acreditei. Não acreditei que por todos esses anos eu nunca fui a mesma, e que estou constantemente em mudança. Estou sempre me reorganizando, é da minha natureza. Acho que meus pensamentos estão precisando de uma reforma. Com tudo isso, me sinto renovada. Hoje é só mais um dia, um dia que acordei nova. Cuidado: Em reforma.

Luyne Matos

Tudo que vicia começa com "C".

"Por alguma razão que ainda desconheço, minha mente foi tomada por uma ideia um tanto sinistra: vícios. Refleti sobre todos os vícios que corrompem a humanidade. Pensei, pensei e, de repente, um insight: tudo que vicia começa com a letra C! De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente iniciava com cê. Inicialmente, lembrei do cigarro que causa mais dependência que muita droga pesada. Cigarro vicia e começa com a letra c. Depois, lembrei das drogas pesadas: cocaína, crack e maconha. Vale lembrar que maconha é apenas o apelido da cannabis sativa que também começa com cê. Entre as bebidas super populares há a cachaça, a cerveja e o café. Os gaúchos até abrem mão do vício matinal do café mas não deixam de tomar seu chimarrão que também - adivinha - começa com a letra c. Refletindo sobre este padrão, cheguei à resposta da questão que por anos atormentou minha vida: por que a Coca-Cola vicia e a Pepsi não? Tendo fórmulas e sabores praticamente idênticos, deveria haver alguma explicação para este fenômeno. Naquele dia, meu insight finalmente revelara a resposta. É que a Coca tem dois cês no nome enquanto a Pepsi não tem nenhum. Impressionante, hein? E o computador e o chocolate? Estes dispensam comentários. Os vícios alimentares conhecemos aos montes, principalmente daqueles alimentos carregados com sal e açúcar. Sal é cloreto de sódio. E o açúcar que vicia é aquele extraído da cana. Algumas músicas também causam dependência. Recentemente, testemunhei a popularização de uma droga musical chamada "créeeeeeu". Ficou todo o mundo viciadinho, principalmente quando o ritmo atingia a velocidade... cinco. Nesta altura, você pode estar pensando: sexo vicia e não começa com a letra C. Pois você está redondamente enganado. Sexo não tem esta qualidade porque denota simplesmente a conformação orgânica que permite distinguir o homem da mulher. O que vicia é o "ato sexual", e este é denominado coito. Pois é. Coincidências ou não, tudo que vicia começa com cê. Mas atenção: nem tudo que começa com cê vicia. Se fosse assim, estaríamos salvos pois a humanidade seria viciada em Cultura..."

Luiz Fernando Veríssimo
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O planeta Terra

(...) Por fim ela conseguiu chegar na terra e encontrou os humanos. A princípio achou engraçado o fato de não terem observado uma presença tão estranha, e quando teve a primeira oportunidade foi questiona-los sobre o que sabiam da vida. Tudo ficou em silêncio. Percebeu então que aquelas historinha de "homens desenvolvidos" não passava de ilusão. Passou tanto tempo em seu mundo, acreditando e sonhando com esse encontro, idealizando uma troca de experiências. Pois bem, desiludida, tentou continuar uma conversa. Foi quando tudo começou a desabar. "Eles eram capazes de destruir a si mesmo? Como?". Queria saber o motivo de tudo, não entendia como eram capazes disso! Foi descobrindo que nesse mudo a violência era mais importante, o orgulho, a inveja... Que um abraço é simplesmente um encontro de corpos, se moldam ao lugar, aos grupos, como se não tivessem uma personalidade definida. Não sabem que pessoas gostam de ouvir pessoas, vivem numa zona de conforto, se auto-bloqueiam! Constroem situações difíceis, e seguem de olhos fechados para não enxergar nada, fogem dos problemas e se sentem capazes de tudo dessa maneira. Não pensam em coisas diferentes com frequência, é sempre tudo esperado. Não há novidade em viver, é mecânico. Estão na era das maquinas, ELES são as máquinas! Acreditava fielmente nisso, e a cada resposta tinha a certeza que de evolução eles não entendiam. "Destroem o próprio mundo para a necessidade de uma época!?". E sem aguentar ouvir tanta hipocrisia, gritou: "É tudo uma mentira!". Foi enganada em seu mundo, e precisava voltar para ele e contar a todos a verdade sobre o planeta Terra. Não sabia como continuavam vivendo assim. Sentiu uma necessidade em ajuda-los... Pena que o fato de se acharem os melhores bloqueava qualquer tipo de apoio. "Esse mundo é estranho, eles esqueceram de viver". E se despediu com um beijo, acreditando numa continuidade do seu ato (...).

Audição?

Acordei e imediatamente algo que me fez parar por alguns segundos diante de uma rotina. Logo percebi que seria um dia diferente. Não sei ao certo o sentimento, acho que DESESPERO se enquadra. Era para eu estar no modo mecânico, fazendo toda a monotonia diária, mas percebi que o meu ouvido direito estava em modo silencioso. Culpei-me! Há algumas semanas atrás quis silenciar o mundo por alguns minutos de estresse. Pensei o quanto seria BOM (isso mesmo, usei esse termo) ficar surda. Queria uma calmaria, estava saturada das palavras, do barulho do mundo. Queria sossego, tranquilidade, uma ausência do som. E naquele momento, uma parte de mim parecia estar de acordo em realizar o meu pedido. Será que estava realizando justo este? A sensação era de estar tapado, completamente tapado. Quanto incomodo! Antes de tomar qualquer atitude, o medo apareceu.  Como eu nunca tinha reparado a importância da audição? Sabia que poderia ser por conta do resfriado que estava passando, mas e se eu parasse de escutar tudo para sempre? Que medo! O mundo no mudo. Com certeza preferi ouvir a voz da minha avó brigando comigo novamente, mas lembrei de outros sons. Eu, uma amante da música, como viveria sem? Como seria pegar meu violão, e ao tocar não escuta-lo? Seria como viver no mundo imaginário. Olhar para uma árvore se balançando com o vento, e fazer um esforço para lembrar o som que ela faz. A rotina mudaria completamente. Pegar ônibus, não ouvir carros, buzinas, que perigo! As conversas? Como seria? Meus amigos mais próximos, o que fariam? A comunicação é essencial, ainda mais para uma estudante de JORNALISMO. O que seria da minha profissão? Da minha autoestima? Quantos sons já haviam passado por mim sem importância? Quantas palavras ditas? Quantas vozes não ouvidas? Eu, que tenho como característica a paciência em “ouvir as pessoas”, a perderia? Em meio aos sentimentos, lembrei-me de uma frase: “Cuidado com seus pedidos, eles podem se realizar”. (...)

- Luyne Matos

O açougue diferente


É simples: O cliente fica bonito, põe perfume, coloca a melhor roupa e sai em busca do seu produto: a carne humana. Escolhe, então, um lugar arejado, amplo, de fácil entrada, e de preferência com muitas opções. Não está preocupado com a escassez, com outros clientes, e muito menos com o açougueiro. Ao chegar encontra ao seu redor várias carnes esperando serem apreciadas, os tipos são variados. Todas penduradas, paradas, esperando o caçador passar ao seu lado avaliando com olhos cheios de fome. Estão batidas, temperadas em um salão de beleza por horas. Se limitam na espera, as vezes entram em conflito, as vezes conversam entre si sobre as escolhas. Até que se encontram, o cliente acha a sua favorita e experimenta, não há uma compra, é só uma apreciação. Degusta, se satisfaz. Por fim, come, mas só pela metade. E vai... Cada um volta ao seu lugar. A carne se pendura, esperando o outro, e o cliente vai em busca de uma outra carne.

- Luyne Matos

O sonho...

Lá estava eu, como sempre e como todas as outras pessoas, querendo dormir e imaginando milhões de coisas... Minha cabeça não para quando eu a coloco no travesseiro. Os dias estavam difíceis e eu precisava de uma resposta, havia perguntas e mais perguntas a serem respondidas. Com certa impaciência, eu me vi conversando, ou tentando conversar, com Deus. Estava com uma espécie de “choro desenfreado”, as palavras saiam da minha boca necessitando serem ouvidas. Percebi o quanto tinha me tornado imatura, e as cenas que vinham na minha cabeça era exatamente essa: Uma criança. Que precisava mais do nunca de um colo. Ao fechar os olhos, implorei, como nunca, um abraço, e Ele veio (...) Não entendi o que estava acontecendo, com os olhos já abertos eu estava em um lugar que nunca tinha visto. Era tudo branco e ao olhar para frente não encontrava o fim, os meus pés pareciam pisar em uma fumaça, um algodão, algo inexplicável. Concentrei-me para não entrar em pânico, e ao virar para o lado percebi que havia um banco, único, pequeno, baixo, e fui ao seu encontro. Uma curiosidade foi despertada e eu soltei então, antes de sentar, uma pergunta: Tem alguém aqui? A resposta veio. A voz era de alguém, que aparentemente era normal, humano, não qualquer um, mas um humano mágico, que apareceu sentado naquele banco. Ao escutar um sim e encontra-lo sentado, o coração acelerou, acabei tomando um susto e ao perceber Ele sorriu. A sensação naquela hora não foi de desespero, eu sabia quem era Ele. Sim, eu sabia, sentia, e a primeira coisa que fiz foi terminar aqueles passos que me separava do banco. Enfim, o abracei. Os sentimentos eram tão fortes que eu não conseguia falar mais nada, com os olhos cheios de lagrimas, senti um orgulho indescritível, olhei nos seus olhos e com um sorriso no rosto, disse: “Papai!”. Aquela palavra explicava tudo que eu queria falar. O agarrei como se tudo na minha vida dependesse daquilo. Não sabia como tudo estava acontecendo, mas sentia que era verdadeiro, sincero, e que aquele rapaz transmitia uma paz nunca sentida por nenhum humano. Ainda em um estado nada explicável, escutei as palavras saindo da sua boca, elas me confortavam: “Estou aqui... Estou aqui.” 
Ainda em prantos, depois de um tempo, consegui sentar e observar cada detalhe do seu rosto. Topei, apertei, queria sentir tudo e ter a certeza que não era apenas um sonho. Segui assim, tão surpresa e começamos a conversar. Infelizmente não me lembro da nossa conversa completa. Foram ditas tantas coisas, pelo menos da minha parte, fiz tantas perguntas. Mas uma coisa eu sempre lembrarei: Ao questionar todos os acontecimentos e explicar o quanto eu queria ser feliz, Ele me perguntou o que eu mais queria naquele momento. Não entendi já que Ele sabia exatamente, e até melhor que eu, as minhas vontades. Parei e pensei por alguns segundos. Quis rapidamente moldar a minha resposta, contendo tudo o que eu mais queria. Sorri, já sabia exatamente o que falar! Soltei: “Um anjo!”. Nesse dia em diante, eu tinha um grande sonho: Ter o meu anjo! A resposta foi imediata: “Você terá, tenha fé.”

- Luyne Matos

Cuidado com a ABIOSE.



Estava lendo o dicionário, por pura curiosidade, e me deparei com a palavra ABIOSE. O significado me chamou atenção: Ausência de vida. Continuei a pesquisar pela internet o seus sinônimos e outros significados, tentando identificar na minha memória se já havia aprendido essa palavra estudando biologia. Bom, nunca fui uma boa aluna nessa matéria, e com certeza já estava esquecida do termo. Lendo, fiquei surpresa! "Estado de quem não tem condição ou aptidão para viver". Posso estar equivocada, mas assim que li essa frase pensei: "A doença do século!". A Abiose, pelo o que eu entendi, não é considerada uma doença, mas vou trata-la como. Em um mundo tão moderno, cheio de entretenimentos e tecnologia, nos deparamos com uma juventude "fraca". Uma juventude depressiva, ansiosa... São jovens, que mesmo contendo uma arsenal de produtos e materiais, se descobrem vazios. Em algumas pesquisas, que sendo sincera não sei o tamanho da verdade, descobri que a depressão entre os jovens de 18 a 29 anos aumentou, e olha que com isso não se brinca. A aptidão para a viver, o anseio das conquistas, os sonhos, se esconderam atrás das telinhas dos computadores. O companheirismo está voltando ao celular, onde se conversa com quem está ao seu lado fisicamente. E eu pergunto: Com tanta tecnologia, será que vai existir uma que fará a ficha dos jovens cair? Cuidado com a abiose!

Nome: Abiose.
Sintomas: Falta de sonhos, medo do fracasso, ausência de uma conversa entre amigos -fisicamente-, escassez de abraços, estresse, raiva, medo do futuro, abdicar de momentos felizes, etc...
Remédio: Viver.
OBS: Se persistirem os sintomas, o paciente deverá procurar alguns amigos.

 - Luyne Matos