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Da série: Encontrei no ônibus.

O dedo na boca e a outra mão segurando fortemente o banco da frente, como quem precisa agarrar-se a algo, ou alguém. Está voltando do trabalho, o cabelo foi cortado tem pouco tempo, sua estatura é mediana. Seu psicológico transparece no seu rosto cansado. As roupas foram colocadas após passar horas mexendo em um cimento. As suas mãos, que agora estão limpas, não param. As unhas estão sendo roídas pela ansiedade que está passando. Os olhos estão vermelhos, foi uma noite mal dormida por conta dos  pensamentos. A mochila está pesada, como quem estivesse representando a sua própria vida que ele carrega com tamanha dificuldade. A põe no colo entre suas mãos nervosas. É uma espécie de abraço, dizendo: "Não vou te largar vida". A força parece estar desgastada, não sei distinguir se pelo trabalho ou pelos problemas. O pensamento viaja, ele com certeza está longe. Suas pernas estão em movimento, não param nenhum segundo. Respira forte, fecha os olhos. Quantas coisas estão passando naquela cabeça? Quando abre os olhos ele decide abrir também todas as janelas, como quem precisasse de ar, de espaço, de sentir a liberdade. Com certeza queria estar livre daquilo tudo. Aquilo, que eu não sei o que é, mas que seu corpo demonstra claramente. Há uma aflição, ou problema, até uma angustia, vai saber... Sua cabeça diz não. O que ele nega? Algo que fez e não aceita? Talvez só não queira chegar em casa. Suas pernas pararam, sua boca deu trégua as unhas. O que ele pensou para conseguir se acalmar? Ele fecha os olhos, coloca o rosto na maior janela, respira fundo e se prepara para levantar-se. Acho que não pensou em nada, o corpo parou pelo simples fato de ter que ir. Dá o sinal, abaixa a cabeça, e mesmo não querendo ir, ele vai... Sobre sua força estar desgastada: É mentira. Ele foi forte, ele foi! 

Um comentário:

  1. Muito bem feito. Parabéns! Queria conhecer a autora desse texto pessoalmente, juro.

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