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Da série: Encontrei na universidade.

O professor está falando sobre a ciência. As palavras parecem ser ignoradas. A calça jeans, blusa de manga, cabelo liso, mãos nervosas e uma caneta fazendo círculos em seu caderno. Seus olhos pairam sobre a sala. Respira fundo. Não demonstra qualquer interesse. Talvez esteja tentando liberar sua angustia: A folha está uma bagunça de círculos. A classe está cheia, são sessenta alunos. Alguns têm a leve impressão que conhece o outro. Ela acabara de me contar seus problemas: Está grávida aos vinte anos. Ninguém sabe até agora, só eu. "Minha mãe vai me matar". Não há como não se pré-ocupar. Os círculos continuam a preencher as linhas, está cheia -a folha e ela. Cheia de pensamentos, de aborrecimentos, de futuro. Como se já não bastasse seu pretérito imperfeito. "Vou abortar!". Gelei. Seria fácil ter o problema morto. Logo depois ela desistiu. Continua rabiscando -gritando por dentro. Os minutos se transformaram em horas, a aula não acaba. A folha está cheia de círculos, e ela resolve começar tudo de novo. Vira a página. Mais uma atitude que esclarece seu eu: Começar tudo de novo. O novo. Alguém fala com ela. Ao responder, sorri. Sorriso. Só-riso? Não. A conversa continua. Quem emite a fala não sabe o que há por dentro da receptora. É... Alguns têm a leve impressão que conhece o outro.

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